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Documentação

Um tesouro da história social

Arquivo Edgard Leuenroth se originou de documentos reunidos pelo militante anarquista

Protesto de estudantes durante o regime militar em foto do acervo do AEL

ReproduçãoProtesto de estudantes durante o regime militar em foto do acervo do AELReprodução

O paulista de Mogi Mirim Edgard Leuenroth (1881-1968) foi jornalista, tipógrafo, militante anarquista, líder da primeira greve geral brasileira, em 1917, e organizador de um vasto arquivo sobre as atividades dos movimentos sociais durante o período de formação do proletariado no Brasil. O acervo reunido por Leuenroth foi transferido em 1974 para o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp depois de percorrer um caminho que começa logo após a morte de seu organizador, com o depósito dos documentos num galpão do bairro paulistano do Brás, que “vivia sob ameaça de bombas e incêndio”, segundo o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro. Com o historiador Michael Hall, ele foi um dos primeiros intelectuais a conhecer o depósito. Pinheiro fez contato com o filho de Leuenroth, Germinal, com o intuito de levar a documentação para um lugar seguro. Ele sabia que o criador do IFCH, Fausto Castilho, tinha o desejo de formar um arquivo de documentação social.

Os herdeiros de Leuenroth, contudo, viam os visitantes com desconfiança, rompida pela intervenção do sociólogo Azis Simão (1912-1990), amigo e companheiro de ativismo do líder anarquista. Para proceder à transferência do arquivo para a Unicamp, Simão pediu a ajuda do crítico literário Antonio Candido, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), que havia participado da criação do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), e este conseguiu que o reitor Zeferino Vaz encampasse a ideia. O projeto de aquisição do acervo foi apresentado à FAPESP.

“Hoje o AEL [Arquivo Edgard Leuenroth] tem o maior acervo da América Latina dedicado à história social e é referência para o mundo todo”, relata Álvaro Bianchi, seu diretor e professor do Departamento de Ciência Política do IFCH. Desde a chegada à Unicamp, o acervo cresceu muito, com o acréscimo, por exemplo, da documentação do projeto Brasil Nunca Mais, que reúne documentos de mais de 700 presos políticos do regime militar, além dos acervos do Partido Comunista Brasileiro e do Teatro Oficina.

Bianchi destaca um crescimento significativo nos últimos dois anos, com a incorporação de 11 conjuntos documentais, entre eles os do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá e do Centro de Pesquisa e Documentação Vergueiro. No período também foi intensificado o trabalho de digitalização de todo o volumoso acervo do AEL, processo que ganhou impulso em 2011, com um auxílio da FAPESP.

A presença do AEL na Unicamp influenciou linhas de pesquisa da pós-graduação dos departamentos do IFCH em que há forte presença da história social e da cultura”, conta Bianchi. “O arquivo proporciona a atenção a assuntos que normalmente não estão na agenda de outras instituições e enfatiza, no IFCH, uma abordagem crítico-histórica de seus objetos de investigação.” Segundo o diretor, mais de 500 teses e dissertações já foram produzidas com base nos documentos do AEL. Bianchi lembra que o arquivo mantém vinculação com todos os departamentos do instituto e que já teve diretores vindos da história, da sociologia e da antropologia.

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