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José Goldemberg

Unicamp – 50 anos

José Goldemberg - Presidente da FAPESP

Aniversários são uma ocasião especial em que se costuma fazer um balanço do que ocorreu no passado. Para uma universidade, completar meio século de existência não é, contudo, um aniversário comum, mas uma boa oportunidade para não só olhar o passado e também aferir se os objetivos para os quais foi criada foram atingidos e, em função do resultado dessa avaliação, planejar o futuro.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi oficialmente fundada em 5 de outubro de 1966 para responder à demanda crescente de pessoal qualificado no estado de São Paulo, ampliando o papel da Universidade de São Paulo (USP), que havia surgido 32 anos antes, em 1934, e para dar início ao processo de interiorização do ensino universitário do estado, que foi depois ampliado com a criação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) em 1976.

O número de profissionais diplomados pela Unicamp soma hoje mais de 40 mil, cerca de metade dos quais trabalhando em cargos de direção em empresas ou instituições públicas. Além do ensino, a Unicamp tem se destacado pela excelência da pesquisa que produz. Cerca de 15% da produção científica nacional é feita ali. A Unicamp é a universidade líder no Brasil em número de artigos per capita publicados em revistas indexadas na base de dados ISI/WoS e no registro de patentes.

A alta qualidade da sua pesquisa é a principal responsável pela presença frequente da Unicamp em rankings internacionais de prestígio sobre instituições de ensino superior. Este ano ela aparece em segundo lugar na lista das 50 melhores universidades da América Latina preparada pela publicação britânica Times Higher Education. Em 2015, ela foi classificada em 11º lugar entre as melhores universidades jovens (com menos de 50 anos) do mundo segundo a consultoria internacional QS Quacquarelli Symonds.

Uma das características mais marcantes da Unicamp é ela não ter sido criada como uma agregação de escolas e faculdades preexistentes, como a maioria das universidades brasileiras, inclusive a USP (exceto, nesse caso, pela criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras como base principal da pesquisa científica).

Ela foi concebida por Zeferino Vaz, que atraiu dezenas de pesquisadores brasileiros que estavam no exterior, bem como um grande número de visitantes, com grande ênfase na pesquisa científica, não só com a finalidade de avançar o conhecimento, como também para servir de base para a boa qualidade do ensino e do processo produtivo.

Zeferino Vaz, médico e professor de zoologia e parasitologia da USP, não tentou duplicar na Unicamp as áreas de pesquisas existentes em sua universidade de origem, mas abriu novas frentes, entre as quais, por exemplo, a digitalização de telefonia, o desenvolvimento de fibras ópticas e suas aplicações, bem como a tecnologia de lasers com suas inúmeras aplicações.

Atuando como uma autêntica “usina de pesquisas” e como um centro de formação de profissionais de alta qualificação, a Unicamp atraiu para suas imediações todo um polo de indústrias de alta tecnologia, quando não gerou ela própria empresas a partir de seus nichos tecnológicos, por meio da iniciativa de seus ex-alunos ou de seus professores.

Segundo levantamento recentemente divulgado, nos últimos 25 anos foram criadas 358 empresas por alunos, ex-alunos e professores da Unicamp, que geraram uma receita de R$ 3 bilhões em 2015 e criaram 19 mil empregos. Portanto, a existência desse polo, aliada à continuidade do esforço da Unicamp, tem produzido grandes e benéficas alterações no perfil econômico da região onde estão localizados seus três campi (nas cidades de Campinas, Piracicaba e Limeira), seus 23 núcleos e centros interdisciplinares e seus dois colégios técnicos, além de diversas unidades de apoio, que envolvem, todos juntos, cerca de 50 mil pessoas.

A tradição da Unicamp na pesquisa científica e no desenvolvimento de tecnologias deu-lhe a condição de universidade brasileira com maiores vínculos com os setores de produção de bens e serviços. Ela mantém centenas de contratos para repasse de tecnologia ou prestação de serviços tecnológicos a indústrias na região de Campinas, onde está seu campus original e central, um dos principais centros econômicos e tecnológicos do país, condição atual que se deve em grande parte ao que a Unicamp tem feito nesse seu meio século de vida.

A Unicamp é ainda a universidade brasileira com maior índice de alunos na pós-graduação – 48% de seu corpo discente – e responde por aproximadamente 12% da totalidade de teses de mestrado e doutorado em desenvolvimento no país.

Graças a essas características é que ela conquistou o segundo lugar no ranking da Times Higher Education das melhores universidades da América Latina, superando universidades muito mais antigas como a Universidade Católica do Chile, Universidade Autônoma do México e Universidade Federal do Rio de Janeiro. A USP ocupa o primeiro lugar neste ranking.

O sucesso desse trabalho, que procurei resumidamente demonstrar neste artigo, comprova que os objetivos para os quais a Unicamp foi criada têm sido atingidos, e que ela deve perseverar nessa direção, apesar das dificuldades conjunturais que o sistema universitário enfrenta.

A FAPESP tem sido desde a fundação da Unicamp uma das principais fontes de financiamento das pesquisas nela realizadas e orgulha-se de ter contribuído para o seu êxito.

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