Imprimir PDF Republicar

Carta da editora | 297

A vez do Pantanal

O corpo do rio prateia
quando a lua se abre
Passarinhos do mato gostam
De mim e de goiaba
[…]
Era o menino e os bichinhos
Era o menino e o Sol
O menino e o rio
Era o menino e as árvores

Cresci brincando no chão
Entre formigas
Meu quintal é maior
Do que o mundo
[…]

Manoel de Barros,
“O menino e o rio”

O Pantanal, imortalizado nos versos de Manoel de Barros, é um dos biomas mais preservados do país, mantendo, até 2019, 84% de sua vegetação nativa. É definido pelo regime de chuvas e cheias dos rios, que mantém boa parte das terras inundadas por meses, e de secas, em que incêndios pontuais ocorrem esporadicamente. Nada, entretanto, parecido com as queimadas que devastaram 27% da área do ecossistema entre janeiro e outubro deste ano. As imagens da mata em chamas, com animais carbonizados ou feridos, fugindo do fogo, mais uma vez correram o mundo, um ano após incêndios também muito acima das médias históricas na Amazônia. À busca de uma visão abrangente do seu ecossistema e de pesquisas sendo conduzidas naquele bioma, os editores Marcos Pivetta e Ricardo Zorzetto fizeram um mergulho no tema para as duas reportagens que compõem a capa desta edição.

Celso Furtado, paraibano de Pombal, é o economista brasileiro mais conhecido internacionalmente. Nascido há 100 anos, ele propôs ou participou do desenvolvimento de algumas das principais ideias associadas à industrialização e ao desenvolvimento econômico brasileiro e latino-americano. Autor de livros importantes, traduzidos não apenas para espanhol, francês e inglês, mas também japonês, mandarim e persa, professor em consagradas universidades da Europa e dos Estados Unidos, Furtado foi também um homem de ação, ajudando a criar instituições como a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e, após o fim da ditadura militar (1964-85), as leis de incentivo à Cultura (página 90).

No Brasil, os casos de infecção pelo novo coronavírus e o número de mortes dela decorrentes estão em clara trajetória descendente. Enquanto isso, a Europa sofre com a segunda onda. As diferenças entre os países quanto ao enfrentamento da pandemia são tratadas em reportagem à página 18. Outros textos desta edição abordam a interrupção temporária de testes de vacinas e tratamentos contra a Covid-19, os casos de reinfecção pelo Sars-CoV-2 e os riscos de crianças transmitirem a doença.

Republicar