O físico paulista Vanderlei S. Bagnato, do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), e o engenheiro elétrico paraibano Júlio César Rodrigues Fernandes de Oliveira, CEO do grupo Idea Sistemas Eletrônicos, com sede em Campinas (SP), foram os vencedores da edição de 2021 do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia. A escolha se deu por contribuírem com o avanço do conhecimento e de inovações na área óptica com implicações nos campos da saúde e das telecomunicações. Cada um deles receberá R$ 500 mil. É a maior premiação para C&T do país.
“O que aprendi em 30 anos sobre as interações da luz com a matéria e por meio do controle de átomos procuro aplicar em átomos e moléculas dentro das células doentes para provocar reações que as consertem ou as levem à morte”, conta Bagnato, destaque na categoria Ciência, coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela FAPESP. Ele infere que a escolha do júri tenha levado em conta o conjunto de seu trabalho na área de física atômica – o físico construiu o primeiro relógio atômico do hemisfério Sul – e as aplicações da óptica na saúde, que considera de impacto social. Um deles foi o aprimoramento de uma terapia fotodinâmica, que combina agentes fotossensibilizadores e uso de laser e LED, para tratar câncer de pele e outros tipos de tumores, bem como controlar infecções de vários tipos.
“Mais de 7 mil pacientes já foram tratados no Brasil com essa terapia em cerca de 100 centros dermatológicos. Países como Chile, Colômbia e Cuba passaram a aplicar o tratamento de forma experimental e, agora, estamos em tratativas para que se torne disponível no SUS [Sistema Único de Saúde] em um ou dois anos”, conta Bagnato. O pesquisador trabalha agora em uma técnica que usa luz infravermelha sobre os brônquios para tratar pacientes com pneumonia resistente aos antibióticos, em fase de testes em animais.
Já Júlio Oliveira destaca avanços na convergência entre o campo da fotônica e da microeletrônica como contribuição relevante em sua trajetória. Ele desenvolve dispositivos fotônicos integrados, como moduladores e receptores ópticos para transmissão de dados em alta velocidade, usados, em um primeiro momento, para sistemas de telecomunicações. A maior parte de seus clientes está nos Estados Unidos, onde há uma filial de uma das empresas que compõem o grupo Idea. “Estamos aplicando esse conhecimento em outras áreas, como na instrumentação científica, e o primeiro grande trabalho nesse sentido foi desenvolver detectores de raios X usados no acelerador de partículas Sirius, abrigado no CNPEM [Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais]”, informa o ganhador na categoria Tecnologia.
Os dispositivos funcionam como uma câmera fotográfica que permite o registro dos experimentos científicos em alta resolução. “Conseguimos gerar até 2 mil imagens por segundo. Com isso, é possível enxergar o comportamento dinâmico de medicamentos nas células, por exemplo. A inovação foi usar a tecnologia fotônica e microeletrônica com alta resolução em um sistema que vai funcionar nos túneis de vácuo. Eles já estão em operação em pelo menos duas linhas do Sirius”, explica Oliveira, que acumula 15 patentes licenciadas e 20 produtos transferidos ao mercado.
O engenheiro ainda não planejou como vai usar o prêmio de R$ 500 mil. Uma ideia é investir em iniciativas de capacitação na área. Bagnato, por sua vez, pretende destinar parte do valor para oferecer uma bolsa de doutorado que, planeja, levará o nome do físico Sérgio Mascarenhas (1928-2021), morto em maio.
Em sua terceira edição, o prêmio criado pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) com o objetivo de reconhecer o legado de pesquisadores cuja criatividade e originalidade contribuíram de forma significativa para a produção científica e tecnológica, recebeu mais de 425 inscrições de pesquisadores espalhados pelo país – eles podem se inscrever ou ser indicados. Em 2020, os premiados foram o médico gaúcho Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e o químico paulista Fernando Galembeck, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na primeira edição, em 2019, foram laureados o matemático Marcelo Viana, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), e o farmacologista João Batista Calixto, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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