Imprimir PDF Republicar

Arqueologia

De Lagoa Santa a Zarqa

Brasileiros procuram por antigos hominídeos na Jordânia

Trabalho de campo no vale do rio Zarqa: local de passagem dos hominídeos que deixaram a África

astolfo araujoTrabalho de campo no vale do rio Zarqa: local de passagem dos hominídeos que deixaram a Áfricaastolfo araujo

Entre outubro e novembro passado, o arqueólogo e antropólogo Walter Neves, coordenador do Laboratório de Estudos Humanos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), se dedicou ao trabalho de campo de um novo projeto: ao lado de colegas brasileiros, italianos e do Oriente Médio, fez escavações na região do vale do rio Zarqa, um afluente do famoso rio Jordão que cruza o planalto central da Jordânia. Com cerca de 50 cavernas pré-históricas, algumas com indícios de indústria lítica humana muito antiga, essa área deve ter sido habitada pelos primeiros hominídeos que deixaram a África em direção à Ásia e possivelmente à Europa há cerca de 1,8 milhão de anos. “Fazer pesquisa no Oriente Médio sempre foi um sonho meu”, diz Neves.

Ousadia nunca faltou ao pesquisador da USP que, com seus trabalhos conduzidos nas duas últimas décadas em Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizonte, tem defendido uma nova teoria sobre o processo de colonização das Américas. A partir da análise das características anatômicas de mais de 80 ossadas humanas encontradas nessa região mineira rica em sítios arqueológicos, com destaque para os estudos sobre o crânio de Luzia (com 11 mil anos de idade), Neves sustenta a ideia de que nosso continente foi colonizado por dois grupos distintos de Homo sapiens vindos da Ásia.

A primeira leva migratória teria ocorrido há uns 14 mil anos e incluía indivíduos semelhantes a Luzia, com morfologia não mongoloide, similar à dos atuais australianos e africanos. Esse grupo não teria deixado descendentes. A segunda onda teria entrado aqui há uns 12 mil anos e seus membros apresentavam o tipo físico peculiar dos asiáticos, dos quais os índios modernos derivam. A tese foi e continua sendo polêmica, mas atualmente quase todos os trabalhos internacionais que tratam do processo de povoamento das Américas têm de ao menos citá-lo – nem que seja para refutar as ideias de Neves.

Sambaquis
Além do debate em torno do povo de Luzia, a arqueologia da USP tem dado outras contribuições importantes a esse campo de estudo. Grupos de pesquisa do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) e a equipe de Sabine Eggers, do IB-USP, têm pesquisado ao longo da costa brasileira um tipo de vestígio arqueológico conhecido como sambaquis, montículos de conchas onde os povos pré-históricos enterravam seu mortos. Uma das descobertas mais interessantes foi Luzio, apelido dado ao esqueleto humano de 10 mil anos de idade descoberto em 2000 em um sambaqui fluvial do Vale do Ribeira, em São Paulo.

Republicar