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RECONHECIMENTO

Marcelo Knobel e Jerson Lima Silva ganham o Prêmio CBMM

Físico da Unicamp e biofísico da UFRJ foram laureados na 4ª edição do evento

Marcelo Knobel e Jerson Lima Silva: premiados

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

O físico Marcelo Knobel, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e o biofísico Jerson Lima Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram os ganhadores da 4ª edição do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia. Segundo a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), criadora da premiação – a maior de C&T do país –, ambos foram reconhecidos nas duas categorias por suas contribuições irem além da fronteira de suas áreas de conhecimento originais e também pelo trabalho enquanto gestores. Cada um levará R$ 500 mil.

Em seu percurso acadêmico, Knobel destaca a consolidação do grupo de pesquisa em materiais magnéticos. Ao longo dos anos, os estudos evoluíram para materiais nanoscópicos (1 nanômetro equivale a 1 milímetro dividido por 1 milhão), com o objetivo de entender os mecanismos por trás das propriedades magnéticas de nanopartículas, cujas aplicações vão da medicina ao campo petrolífero.

“Estamos buscando novos desafios”, conta o físico, que também foi reitor da Unicamp. “Uma das possibilidades é usar nanopartículas magnéticas para o tratamento de tumores.” Elas são a base de um tratamento ainda experimental para alguns tipos de câncer, chamado de magneto-hipertermia, que mata as células doentes por superaquecimento. Injetadas no paciente, as nanopartículas se conectam ao tumor e, quando são submetidas a um campo magnético alternado, são agitadas até aquecerem o tecido local a temperaturas onde as células cancerosas não sobrevivem ‒ geralmente, acima de 45 graus Celsius.

Mesmo com foco em ciência básica, seu grupo se interessa pelas possibilidades de aplicação a partir da compreensão dos comportamentos e das propriedades dos materiais magnéticos nanoestruturados. Ele destaca as pesquisas que exploram uma técnica que usa nanopartículas magnéticas para aquecer petróleo em grandes profundidades, como no caso do pré-sal, para melhorar o fluxo nas regiões onde o material é mais viscoso.

Em paralelo, Knobel equilibra atividades e cargos administrativos com o estudo e as ações de divulgação científica. Enquanto pró-reitor de Pesquisa da universidade, ele foi um dos mentores do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), que permite o ingresso de alunos de escolas públicas na Unicamp sem a necessidade de vestibular. Já durante sua gestão como reitor, a universidade criou cotas étnico-raciais, um programa para ingresso de refugiados, o ingresso direto de medalhistas de olimpíadas científicas e matemáticas, e o vestibular indígena. “Procuramos fazer uma gestão responsável, com um foco especial nos direitos humanos”, avalia.

No campo da divulgação científica, além das pesquisas sobre a percepção pública da ciência, foi um dos criadores do mestrado em divulgação científica e cultural do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), criou o canal no YouTube Espaço Recíproco, no qual entrevista cientistas e outras personalidades, e lançou  em 2021 o livro A ilusão da Lua (Contexto, 2021), que, entre outros temas, aborda o negacionismo científico.

O biofísico Jerson Lima Silva, por sua vez, destaca em sua trajetória os estudos sobre a deformação da proteína p53 em alguns tipos de câncer, como o de mama e o de útero, conduzidos por seu grupo de pesquisa na UFRJ. Ele propôs que o envelopamento anormal dessa proteína – responsável pela reparação do DNA em casos de pequenos danos, conhecida como a guardiã do genoma – funciona com mecanismo molecular semelhante ao que ocorre na doença de Creutzfeldt-Jakob, a versão humana da vaca louca, que causa morte celular precoce.

Na doença de Creutzfeldt-Jakob, a proteína alterada é o príon celular, mas em ambos os casos as proteínas deformadas podem começar a se autopropagar e infectar outras células. “Temos procurado entender como as proteínas se dobram, se enovelam, e como isso pode estar relacionado a diversos tipos de doenças, do câncer àquelas neurodegenerativas, como o Alzheimer. Entender esses mecanismos é fundamental para chegar a formas mais eficientes de combater essas enfermidades”, afirma o biofísico, que criou o Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear de Macromoléculas (CNRMN), uma das ações de que mais se orgulha.

No caso da p53, mais recentemente seu grupo tem se debruçado sobre formas de recuperar a atividade original de guardiã por meio de compostos que teriam ação antitumoral. “Para isso, também temos observado como a p53 tende a se concentrar em partes da célula em que não há membrana”, explica. Quando a pandemia do novo coronavírus chegou, seus estudos também se voltaram para a composição de um soro de plasma equino com a proteína S do novo vírus, trabalho que foi publicado e teve patente depositada.

A condução das pesquisas caminha ao lado do cargo de presidência da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que ele ocupa desde 2019 depois de ter sido diretor científico entre 2003 e 2018. “Temos conseguido melhorar os investimentos em bolsas e auxílio à pesquisa, que no ano passado ficaram na casa dos R$ 700 milhões, investimento que deve permanecer no mesmo patamar este ano. Também abrimos chamadas de auxílio para jovens pesquisadores, nos moldes da FAPESP”, destaca ele, que continua orientando projetos de mestrado e doutorado. “Com o tempo vamos acumulando atividades, mas aprendendo o que deve ser priorizado”, reflete.

Os vencedores ainda não planejaram o que vão fazer com o valor do prêmio, mas já sabem que vão investir em atividades fora da academia. Autor do livro Quase poesia, Silva usará parte dos recursos para uma nova reunião de poemas, que deve ser publicada no final do ano, com alguns textos escritos durante a pandemia. Já Knobel pretende fazer uma viagem longa, em família, para comemorar os 25 anos de casado, que completará em 2023.

A 4ª edição do prêmio recebeu 664 inscrições de pesquisadores de diversos estados brasileiros ‒ eles podem se inscrever ou ser indicados. Em 2021, os vencedores foram o físico paulista Vanderlei Bagnato, do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), e o engenheiro elétrico paraibano Júlio César Oliveira, CEO do grupo Idea Sistemas Eletrônicos, com sede em Campinas (SP). Os premiados em 2020 foram o médico gaúcho Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e o químico paulista Fernando Galembeck, da Unicamp. Na primeira edição, em 2019, foram laureados o matemático Marcelo Viana, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), e o farmacologista João Batista Calixto, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A edição impressa 319, de setembro de 2022, traz uma versão resumida desta reportagem.

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