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Café

O médico e o café no Brasil do século XIX

Médicos do Rio indicavam café pelo valor nutritivo e para tratar febres

Reprodução de Les Français peints par eux-mêmes (1840-42) Médicos do Rio indicavam café pelo valor nutritivo e para tratar febresReprodução de Les Français peints par eux-mêmes (1840-42) 

A análise de teses defendidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro entre 1850 e 1880 indica que os médicos da segunda metade do século XIX receitavam café por seu suposto valor nutritivo e para o tratamento de doenças, como cólera e febres, inclusive as intermitentes causadas pela malária (Circumscribere, volume 17, junho). Embora a alegada eficácia terapêutica da bebida já fosse um tema bastante controverso na Europa, os doutores da antiga capital nacional advogavam a favor dos benefícios para a saúde decorrentes do consumo do café. No entanto, o discurso dos médicos não se apoiava nas pesquisas químicas de então. “Eles se baseavam em relações centenárias entre dieta, saúde, fatores climáticos e temperamento”, diz a historiadora da ciência Cristiana Couto, principal autora do estudo, que fez parte de seu estágio de pós-doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O café era mais recomendável para pessoas que exibiam os temperamentos linfático (ou fleugmático) e sanguíneo. Em contrapartida, deveria ser evitado por indivíduos que  eram muito nervosos. Mais até do que os humores da pessoa, os médicos levavam em conta a geografia local para defender a bebida. Segundo as teses analisadas, a população de áreas tropicais, como o Rio, deveria ingerir café porque ele alimentaria sem provocar excitação em demasia, facilitaria a digestão, ativaria secreções renais e moderaria a transpiração.

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