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Perícia

Identificado esqueleto de sindicalista desaparecido durante a ditadura

Análises físicas e genéticas dos ossos encontrados na vala clandestina de Perus, em São Paulo, permitiram determinar a identidade de Aluízio Palhano Pedreira Ferreira

Alguns dos ossos analisados pelo Grupo de Trabalho de Perus têm etiquetas e marcas de outras etapas desde que foram encontrados

Léo Ramos Chaves

Mais uma identificação de desaparecido político foi feita pela equipe do Grupo de Trabalho Perus (GTP), que examina as ossadas encontradas em 1990 na vala comum do cemitério Dom Bosco, em Perus, zona norte de São Paulo. O bancário Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, preso em 1971 aos 49 anos de idade, agora deixa de ser desaparecido e sua família pode cumprir os ritos de despedida.

Ao contrário de Dimas Antônio Casemiro, identificado no início do ano, Aluizio Ferreira não estava na lista dos mais provavelmente sepultados na vala. “Tínhamos o registro do nome de Dimas no livro de entrada no cemitério, mas Aluízio desapareceu em maio de 1971 e nunca houve informações sobre o destino do seu corpo”, diz o médico-legista e geneticista forense Samuel Ferreira, coordenador científico do GTP e diretor do Instituto de Pesquisa de DNA Forense da PCDF. É um sinal, ele conclui, de que foi acertada a decisão de ampliar a esfera de busca para todos os desaparecidos em São Paulo entre 1971 e 1974.

A identificação resulta do trabalho meticuloso da equipe que desde 2014 examina e documenta em detalhes o conteúdo de 1.047 caixas contendo ossos (ver Pesquisa FAPESP nº 250). Samuel Ferreira conta que todas as ossadas já foram retiradas das caixas, lavadas e preparadas para análise antropológica. Do total, 890 já foram totalmente examinadas. As características dos esqueletos, que indicam idade, sexo e estatura, são um primeiro filtro. Idosos e crianças, por exemplo, não fazem parte do universo de desaparecidos políticos.

Amostras de possíveis candidatos são então enviadas para a International Commission on Missing Persons, ICMP, um laboratório internacional especializado em análises genéticas de casos de violação de direitos humanos, anteriormente na Bósnia e atualmente em Haia, na Holanda. Das primeiras 100 amostras enviadas, no ano passado, surgiu a identificação de Dimas Casemiro. Desta vez, foram mais 250 amostras de ossos a serem comparadas ao perfil genético de 80 familiares, cujo sangue foi recolhido pelo coordenador do GTP em 16 cidades do país.

Uma vez detectada a compatibilidade genética, os peritos do GTP voltaram a analisar as características físicas do esqueleto. “Ele tinha um detalhe no membro superior esquerdo que era compatível com uma história de trauma quando estava vivo”, diz Samuel Ferreira.

O anúncio da identificação foi feito em Brasília no dia 3 de dezembro, no âmbito do 1º Encontro Nacional de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Além da notícia e de homenagens prestadas a familiares e a envolvidos, como a deputada federal Luiza Erundina, que contribuiu para o custeio das análise genéticas por meio de emenda parlamentar, a ocasião também se prestou a avanços práticos. “Coletamos amostras de 32 familiares”, conta o médico-legista. O aumento no banco de perfis genéticos pode contribuir para futuras identificações.

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