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Carta da editora | 298

Perspectivas animadoras

Em fevereiro deste ano, quando preparávamos a edição de março, confirmou-se o primeiro registro oficial de infecção pelo Sars-CoV-2 no Brasil. Não fazíamos ideia do porvir. Na primeira reportagem sobre o tema na revista, “Novo coronavírus no Brasil”, noticiando a chegada da doença e apresentando outras variedades desse tipo de vírus já existentes no país, os números eram de 81 mil pessoas infectadas e 2.761 mortos em 27 países. Nove meses depois, são 60 milhões de casos e quase 1,5 milhão de mortos no mundo todo.

Todos precisaram se adaptar à nova realidade, e na revista não foi diferente. Abrimos o escopo das reportagens, centradas em resultados de pesquisas científicas desenvolvidas no Brasil ou por brasileiros, abraçando amplamente o tema da Covid-19. A cobertura jornalística do novo coronavírus permite o tratamento de áreas sempre presentes em Pesquisa FAPESP: ciência, tecnologia, política C&T e o comportamento humano, que é objeto de estudo das humanidades. De março para cá, foram sete capas dedicadas ao tema, mais de 50 reportagens e entrevistas sobre a Covid-19, muitas notas e 30 programas especiais de rádio tratando exclusivamente da pandemia.

Hoje, a situação brasileira ainda está aquém do desejável, mas estamos terminando um ano tão duro com perspectivas animadoras. Ao menos duas empresas farmacêuticas anunciaram em novembro resultados além das expectativas iniciais quanto à capacidade de proteção de suas candidatas a vacina; duas delas estão sendo testadas no Brasil e serão produzidas aqui, caso aprovadas. Ainda há várias etapas a cumprir, demandando análises detalhadas dos dados obtidos pelas farmacêuticas, ainda não divulgados, além de estudos complementares.

Entre os pontos em aberto estão a duração da imunidade gerada por essas promissoras candidatas; se elas impedem a infecção pelo vírus ou se atuam de forma que, uma vez infectada, a pessoa imunizada não desenvolva a doença. É uma diferença sutil, mas fundamental em termos de saúde pública. Também é preciso saber se os compostos são eficazes em pessoas com doenças preexistentes que as tornam mais vulneráveis ao vírus e se crianças poderão ser vacinadas. São questões normais no desenvolvimento de imunizantes, que em situações normais demoram anos até serem aprovados ou descartados.

A capa desta edição faz um balanço do que sabemos, até o momento, sobre as candidatas a vacina que concluem com ótimos resultados a fase três de seus ensaios. A cobertura sobre a Covid-19 inclui reportagem sobre experiências com a volta às aulas, cientistas que se tornaram rostos públicos em veículos de comunicação durante a pandemia e o trabalho essencial de investigação e rastreamento dos “detetives epidemiológicos”. Dois relatos novos se somam aos mais de 50 depoimentos da seção Pesquisa na Quarentena, disponíveis em nosso site.

Agradecemos aos nossos leitores pela companhia em um ano difícil e de muitos aprendizados. Com o compromisso de apresentar conteúdo de qualidade, sempre baseado em conhecimento científico, seguiremos tratando dos avanços nessa área, que dominou o noticiário de 2020, e trazendo nosso amplo cardápio de reportagens nas mais diversas áreas do conhecimento. Exemplos, nesta edição, são a trajetória de Maria Firmina dos Reis, fundadora da literatura negra no país, e o sistema desenvolvido por uma startup para auxiliar na identificação de recém-nascidos.

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