Imprimir PDF Republicar

Prêmio Nobel

Um pouco menos desigual

Quatro mulheres foram homenageadas em três das seis categorias do Prêmio Nobel neste ano, o que torna 2020 o segundo na história da prestigiosa honraria com maior número de ganhadores do sexo feminino. A francesa Emmanuelle Charpentier e a norte-americana Jennifer Doudna compartilharam o de Química, enquanto Louise Glück e Andrea Ghez, também norte-americanas, receberam, respectivamente, o de Literatura e parte do de Física. A premiação criada pelo químico, inventor e filantropo sueco Alfred Nobel no final do século XIX tem, historicamente, favorecido os homens. Dos 930 premiados em 120 anos, só 57 são mulheres.

Medicina

Chiachi Chang / NIH | Universidade Rockefeller | Universidade de Alberta A partir da esquerda: Alter, Rice e HoughtonChiachi Chang / NIH | Universidade Rockefeller | Universidade de Alberta

Um novos vírus da hepatite
O prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2020 agraciou dois norte-americanos e um britânico por suas contribuições para a identificação do vírus da hepatite C, que pode causar sérios danos ao fígado e levar à cirrose e ao câncer. Na década de 1970, o médico Harvey J. Alter, de 85 anos, dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, identificou um novo vírus, diferente daqueles das hepatites A e B, transmitido por transfusão sanguínea. Anos mais tarde, a equipe do virologista britânico Michael Houghton, de 70 anos, à época na empresa farmacêutica Chiron, na Califórnia, usou novas estratégias moleculares para identificar o agente patológico, batizado de vírus da hepatite C. Nos anos 1990, o virologista Charles M. Rice, de 68 anos, então na Universidade Washington em Saint Louis, confirmou que o vírus, sozinho, era capaz de se multiplicar e causar a doença, que acomete cerca de 70 milhões de pessoas no mundo e mata 400 mil por ano.

Uma versão ampliada dessa nota foi publicada no site

Química

Alexander Heinl / Picture Alliance via Getty Images Doudna e Charpentier (à dir.)Alexander Heinl / Picture Alliance via Getty Images

Ferramenta para editar genes
Descoberta em 2012, a ferramenta de edição gênica Crispr-Cas9 tem várias possíveis aplicações na produção de alimentos e em medicina, com destaque para o potencial de tratar doenças genéticas. Derivada da forma como bactérias combatem vírus, a ferramenta consiste em moléculas de RNA acopladas a proteínas bacterianas (as Cas9) que funcionam como uma tesoura molecular capaz de cortar o DNA em pontos selecionados. Ela permite inativar ou corrigir genes. Por aprimorar essa ferramenta, a microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier, de 51 anos, do Instituto Max Planck em Berlim, na Alemanha, e a bioquímica norte-americana Jennifer Doudna, de 56 anos, da Universidade da Califórnia em Berkeley e pesquisadora do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, receberam o Nobel de Química deste ano.

Uma versão ampliada dessa nota foi publicada no site

Literatura
Wikimedia Commons
Mitologia da intimidade
A poeta e ensaísta norte-americana Louise Glück levou o Nobel de Literatura de 2020. Seus livros são inéditos no Brasil. Somente traduções esparsas de seus versos foram publicadas em português, em revistas literárias e cadernos de cultura de jornais. Marcada por precisão técnica e linguagem objetiva, sua poesia dialoga com mitos gregos e romanos para mobilizar questões da vida pessoal da autora. Aos 77 anos, Glück publicou 12 coletâneas de poemas, além de livros de ensaios. Professora da Universidade Yale, foi a primeira de uma família de imigrantes húngaros de origem judaica a nascer nos Estados Unidos. Pouco pesquisada no Brasil, a obra de Glück recebeu diversos prêmios nos Estados Unidos, com destaque para o Pulitzer, em 1993, pelo livro The wild iris (Ecco, 1992).

Uma versão ampliada dessa nota foi publicada no site

Economia

Facebook da Universidade Stanford Wilson e Milgron (à dir.)Facebook da Universidade Stanford

Estratégias para leilões
Os cientistas norte-americanos Robert B. Wilson, de 83 anos, e Paul R. Milgron, 72 anos, ambos da Universidade Stanford, na Califórnia, foram agraciados com o chamado Nobel de Economia – prêmio instituído pelo Banco Central da Suécia em 1968 – pelas contribuições à teoria dos leilões. “Os laureados aprimoraram a teoria dos leilões e inventaram novos formatos de leilões, beneficiando vendedores, compradores e pagadores de impostos em todo o mundo”, justificou a Academia Real Sueca de Ciências, destacando que todos os dias leilões distribuem valores astronômicos entre compradores e vendedores. Ao empregar a teoria dos leilões, os pesquisadores procuraram compreender os resultados das diferentes regras de licitação e preços finais a fim de achar o valor mais adequado do bem ou serviço leiloado. Os estudos da dupla têm ajudado governos de todo o mundo a vender bens públicos a preços mais altos.

Uma versão ampliada dessa nota foi publicada no site

Física

Biswarup Ganguly / Wikimedia Commons | Christopher Dibble / UCLA | M. Zamani /ESO Penrose, Ghez e Genzel (à dir.)Biswarup Ganguly / Wikimedia Commons | Christopher Dibble / UCLA | M. Zamani /ESO

Os misteriosos buracos negros
O Nobel de Física reconheceu os trabalhos de um trio de pesquisadores que estudou os buracos negros, regiões do espaço extremamente densas e compactas, que, devido ao seu enorme campo gravitacional, sugam a matéria ao redor. Nem a luz escapa desses objetos (daí o nome). Metade do prêmio em dinheiro de cerca de US$ 1,1 milhão foi para o físico e matemático britânico Roger Penrose, de 89 anos, da Universidade de Oxford, “pela descoberta de que a formação de buracos negros é uma previsão robusta da teoria geral da relatividade” de Albert Einstein (1879-1955). A outra metade foi dividida entre dois astrofísicos da área observacional que lideram grupos de pesquisa rivais: o alemão Reinhard Genzel, de 68 anos, do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, em Garching, Alemanha, e da Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos; e a norte-americana Andrea Ghez, de 55 anos, da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Eles confirmaram a existência de um buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, apresentando mais evidências de que a previsão de Penrose estava correta.

Uma versão ampliada dessa nota foi publicada no site

Paz
Jack Taylor / Getty Images
Alimentos para prevenir conflitos
O Nobel da Paz foi para o Programa Mundial de Alimentos (PMA), maior organização humanitária internacional na área de segurança alimentar, criada em 1961 como um braço da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A Fundação Nobel justificou a escolha com base no esforço do PMA “para combater a fome, por sua contribuição para melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como uma força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito”. Com 5.600 caminhões, 30 navios e 100 aviões, o PMA atendeu 97 milhões de pessoas em 88 países em 2019 e prevê que o número de pessoas com fome crônica deve chegar a 265 milhões em 2020.

Uma versão ampliada dessa nota foi publicada no site

Republicar